O projeto “Douro Memories” iniciou-se em julho de 2013 com o objetivo de conservar, valorizar e promover o património (i)material do Douro, uma herança que reforça a identidade e o sentimento coletivo, pretendendo sensibilizar, de algum modo, as novas e futuras gerações para o património histórico e cultural da região do Douro. Neste sentido, procedeu-se à recuperação da produção e da comercialização do secular sabonete Aregos e à publicação de um livro de banda desenhada, denominado “Caldas de Aregos – As Águas Milagrosas do Douro”, retratando o passado histórico e cultural das Caldas de Aregos, projeto apoiado pela Dólmen, Associação de Desenvolvimento Local.
Este projeto surgiu no âmbito de anteriores investigações que levaram à publicação do livro “Douro – Memórias das Caldas de Aregos” (2007), e à recuperação, em 2009, em colaboração com a Cinemateca Nacional, do “Caldas de Aregos – 1945”, documentário realizado por Armando de Miranda, exibido em janeiro de 1946, no Teatro Politeama, em Lisboa. Quisemos, acima de tudo, aproveitar um significativo acervo material, documental e iconográfico da região que interessava preservar, promover e divulgar.
Sabonete Aregos
O início do século passado ficou marcado pelo ressurgimento termal, acompanhado por um conjunto de atividades e produtos daí decorrentes. Foi o caso dos sabonetes. Fruto da época, a belle époque, o aparecimento dos sabonetes marcou uma nova e mais íntima relação com o corpo, prosperando atividades comerciais relacionadas com a metamorfose, a conservação e o embelezamento do corpo. Caldas de Aregos, no início do século XX, sofreu profundas transformações, que às antigas funções assistenciais acrescentaram outras na área da hotelaria, do turismo e do comércio. As Caldas de Aregos renovaram-se em torno daquilo que sempre foi, e será, a sua maior riqueza: as águas termais “milagrosas” e as águas do Douro. A juntar a isso, no dizer de Miguel Torga, no seu Diário, “uma paisagem de encantar, um milagre da natureza, feito de ingredientes simples e tangíveis, de luz, terra, pedras e água”.Da conjugação destas características naturais, únicas, aliadas à iniciativa e visão de um punhado de homens, nasceu uma das estâncias termais do país mais procuradas e frequentadas por uma burguesia citadina que, marcando o seu estatuto e qualidade de vida, usufruía do repouso, tranquilidade, descanso e, obviamente, das capacidades curativas, sempre milagrosas, das águas de Aregos.
É neste contexto que surgiu, em 1917, o sabonete Aregos, feito com as águas quentes e sulfurosas das Caldas de Aregos, que promoveu a Companhia das Águas, a povoação e a região do Douro, entrando, simultaneamente, nos hábitos higiénicos de um número crescente da população.
A produção ficou a cargo da primeira fábrica nacional de sabonetes e perfumes, “Claus & Schweder”, mais tarde adquirida pela “Ach Brito”.